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Vila São Jorge é assunto do projeto Memória Viva, da FAMS
Ruas de terra e esgoto a céu aberto, casas a se contar nos dedos, mas moradores unidos e dispostos a encontrar soluções para os tantos problemas da Vila São Jorge, em meados do século passado.
Para Secundino Duarte Perez, 67 anos, as histórias do bairro onde morou até pouco tempo, estão marcadas de tal forma em sua memória que os relatos são lembrados com total riqueza de detalhes. Esta semana, ele gravou depoimento para o Projeto Gente da Cidade – Memória Viva, promovido pela Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), em parceria com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura. O projeto já gravou entrevista com o fotógrafo José Herrera (85 anos, o mais antigo em atividades no País), Rosa Alvarez Vasquez (última moradora da casa que hoje integra o complexo do Outeiro de Santa Catarina) e Arata Kami (83 anos, referência da comunidade japonesa na região).
“Pela dona Consuelo, nós ainda estaríamos lá”, confidencia Secundino, referindo-se à esposa, que tem saudades do tempo em que morava na Vila São Jorge, em um chalé de madeira, bastante simples, casa que ainda existe na Rua Luis Campos Moura, 361, modificada por várias reformas. Ali o casal teve três filhos e morou durante 34 anos. “Fui parar na Vila São Jorge porque um colega de trabalho colocou a casa à venda, me simpatizei com o local e comprei”, conta.
Naquela época, problemas é que não faltavam no bairro. Secundino tornou-se conhecido na Vila São Jorge e, para colaborar com os moradores – “gente disposta a enfrentar dificuldades, reivindicar e não sossegar enquanto não fosse atendida” -, voltou a estudar, formando-se nos colégios municipais Vila São Jorge e Cidades Irmãs (atual EE Neves Prado Monteiro). “Foi na escola, com várias gerações, que meus contatos e amizades se firmaram com a comunidade.” Secundino também ganhou prestígio junto às autoridades, como o ex-prefeito Antônio Manoel de Carvalho, que, junto com Albina Rodrigues dos Santos, responsável à época pela sociedade de melhoramentos do bairro, composta somente por mulheres, o apoiaram para ser o primeiro presidente da Sociedade de Melhoramentos da Vila São Jorge, em 1972.
Durante o tempo em que foi presidente, várias ruas foram asfaltadas; a rede de esgoto, instalada, e criadas duas classes do então curso primário, que não existia na região. Graças às insistentes gestões da entidade de bairro, foi instalada até mesmo rede de telefonia, entre outros tantos melhoramentos. Mas, depois de reformar a casa em três oportunidades, Secundino acabou se mudando da Vila São Jorge. “Nunca quis sair de lá, mas devido às enchentes (problema do qual o bairro sofre até hoje), tive que me mudar”, diz, conformado, frisando não passar pela cabeça vender a casa.
Hoje a Vila São Jorge é um dos bairros menos carentes da Zona Noroeste e conta com excelente transporte, escolas, hospitais, sem perder sua característica residencial. “Me orgulho muito de ter morado na Vila São Jorge, tenho lembranças de uma vida feliz, pois além de ter constituído minha família, contribui, e muito, pela transformação do bairro”, diz Secundino, com olhos e voz carregados de emoção.
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