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Um reinado na memória santista: Waldemar, o Rei Momo
Duas coroas feitas de latão e pedrarias, anéis de ouro, faixas com o título que ostentou durante 47 anos, inúmeros troféus, estatuetas e placas, além de álbuns de fotos e recortes de jornais. Homenagens não faltam entre as relíquias guardadas por Waldemar Esteves da Cunha, protético que, entre 1950 e 1991, encarnou a figura do Rei Momo do Carnaval santista – hoje, aos 85 anos, ele é o mais antigo e quem mais tempo exerceu o reinado em todo o País.
Parte de suas fotos como Momo, além de outras, como as que aparece travestido de mulher para participar do Dona Dorotéia, foi doada à Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams) e hoje integra o acervo de fotos sobre carnaval. Atualmente, essas fotos integram a exposição Carnaval... Quem Lembra?, que até o próximo dia 3 pode ser apreciada no Salão de Mármore da Construtora Phoenix (R. XV de Novembro, 141, Centro Histórico).
Em clima de festa e cantando músicas de Carnaval, Waldemar rememorou a trajetória carnavalesca do personagem que ajudou a construir a história do carnaval santista. “Essa era a melhor coisa do mundo e ninguém me segurava”, afirma, com orgulho, o ícone dos desfiles e bailes carnavalescos da Cidade. Sua presença era obrigatória para os foliões da época, que aguardavam ansiosos a chegada do Rei Momo nos bailes e nas apresentações de rua.
Waldemar conta que foi aos 14 anos, quando saía com seus amigos no bloco do Campo Grande, que começou a apreciar realmente o Carnaval,. Nesta mesma época, tornou-se freqüentador do Clube de Regatas Saldanha da Gama, onde fez muitos amigos e, anos mais tarde, encarnou a figura de Dona Dorotéia, protagonista do famoso e extinto Banho da Dorotéia: Vamos Furar Aquela Onda?. Nesse desfile pela Ponta da Praia, os homens, travestidos de mulher, encerravam o percurso com um banho de mar em frente ao clube.
Mas foi em um concurso realizado pelo jornal O Diário que Waldemar foi eleito Rei Momo pela primeira vez, em 1950, juntamente com Marlene Sardinha, escolhida a primeira rainha do Carnaval santista. “Fui coroado pela primeira vez aos 30 anos, mas já participava ativamente da folia desde a adolescência”, comenta, confidenciando, emocionado, que o ‘cargo’ de Rei Momo foi a melhor coisa que lhe aconteceu.
COROA DE LOUROS - Com o Carnaval oficializado pela Prefeitura dois anos depois, Waldemar tornou-se o Rei Momo oficial de Santos. Foram quase 47 anos de reinado ininterrupto – em 1957, a Prefeitura resolveu substituí-lo por um outro, vindo do Rio de Janeiro. Mas nem por isso ele deixou de participar da folia – só que, naquele ano, destronado, usou uma coroa de louros – tal qual Nero -, em substituição à peça que lhe foi confiscada. Mas, em 1953, Waldemar voltou ao honroso posto para o qual foi eleito.
“Eu trabalhava duro o ano inteiro, nunca faltava com minhas responsabilidades profissionais. Mas quando chegava o Carnaval, me desligava de tudo e saía às ruas, levando alegria a todos os foliões”, conta Waldemar, que seguiu a carreira do pai e trabalhou durante 60 anos em uma loja de materiais dentários junto com seus irmãos. Ele conta que trabalhava muito e não dispunha de tempo para idealizar a fantasia e os acessórios - a função de elaborar todo o traje e costurar as fantasias ficava com a irmã e uma tia. Uma curiosidade: para que o Rei Momo ficasse impecável durante todo o dia e noite de andanças carnavalescas, o traje era confeccionado em veludo – o único que escondia as marcas da transpiração.
Em 1991, Waldemar passou o posto para Dráuzio da Cruz, do Império do Samba, mas a pedidos do então prefeito Beto Mansur, fez sua última aparição como Rei Momo em 2000, nos desfiles das escolas de samba da Cidade.
Waldemar ficou feliz com a volta, este ano, dos desfiles das escolas de samba de Santos, suspensos desde 2001. Saudosista, acredita que o Carnaval de sua lembrança é diferente do atual, marcado por abusos por parte de foliões. “Dediquei minha vida a esta festa brasileira, que tem como princípio levar alegria às pessoas”, afirma Waldemar.
Este ano, ele não participará da festa. Passará o Carnaval com a família em Peruíbe. Carnaval, agora, só pela televisão, avisa.