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Fams e voluntárias organizam
Um importante capítulo da história cultural santista, que começou a ser escrito há 81 anos, transformando-se rapidamente em referência educacional em toda a região e marco afetivo para uma expressiva parcela da sociedade local, começa a ser desvendado e, em breve, mostrará a riqueza de seu legado para a Cidade e para as futuras gerações.
Trata-se do Colégio Stella Maris, cujo acervo iconográfico vem sendo recuperado por Maristela Figueiredo Soares de Silvino (à esquerda, nas fotos) e Maria Valéria Basile(ao centro, nas fotos), ex-alunas que trabalham voluntariamente nas tardes de quinta-feira, avaliando, selecionando e recuperando dezenas de álbuns e milhares de fotografias que registram não apenas a vida pedagógica da escola e da congregação, mas também a história do Bairro do Boqueirão e da própria Cidade.
Todo o trabalho conta com a assessoria técnica de Marcelo Mathias, coordenador e conservador do acervo da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), que, além de prestar as orientações necessárias, se dispôs a participar diretamente de todo o processo.
A qualidade do trabalho que vem sendo empreendido, aliada à riqueza dos registros fotográficos levou a madre superiora Maria Bernardete a reservar uma sala, à entrada do prédio, para acomodar o acervo e disponibilizá-lo à população. Para ela, o trabalho desenvolvido pela Fams é criterioso, profissional e da mais alta qualidade. Já o das ex-alunas, comenta, traduzem o profundo amor que ambas têm pela escola.
“É importante que os estudantes conheçam a história de seu colégio e avaliem como é importante o registro das atividades, de forma a fortalecer os vínculos com a instituição e com a própria Cidade”. Ela lembra que o Stella Maris sempre desenvolveu um trabalho pedagógico de vanguarda e cita, a título de exemplo, a preocupação social que levou a escola a criar, em 1926, um externato para atender gratuitamente crianças pobres, e, dois anos depois, um curso de secretariado para as jovens santistas, preparando-as para uma atividade profissional em uma época que os ideais femininos não iam muito além do casamento e das atribuições domésticas.
Escola é a primeira a formar parceria com a Fundação
Fotografias das obras de adaptação da casa da família Carraresi, de origem italiana, cujas instalações deram origem ao Colégio Stella Maris de viagens de estudo do meio atividades extra-curriculares festas formaturas e até algumas inusitadas panorâmicas mostrando a Praia do Gonzaga durante o Congresso Eucarístico (década de 1940) integram o acervo da instituição, que começou em 1920 e está em fase de recuperação.
O material, conforme avaliação de Marcelo Mathias, encontra-se em condições satisfatórias, pois estava acondicionado em armário de um quarto utilizado para papelaria. “Não é o local mais adequado, mas pelo menos os 30 álbuns e as quase três centenas de fotografias soltas não ficaram expostas”, comentou, acrescentando que muitas fotos estavam em envelopes, o que demonstra a preocupação da antiga madre Maria Lúcia, hoje com 92 anos, em preservar a história do colégio.
O trabalho coordenado pela Fams começou pelo diagnóstico do material, seguindo-se a catalogação das fotos. Em seguida, será feita a higienização completa dos álbuns, com a utilização de pincel macio, e das fotos, com um tecido próprio, importado. O manuseio das peças é feito com luva, evitando que a gordura natural da mão fique aderida ao papel, abrindo caminho para os fungos.
Depois dessa etapa, os álbuns serão acondicionados em pastas confeccionadas em plástico resistente e material inerte, evitando reações químicas, explicou Mathias. As pastas permanecerão em estantes de aço na futura sala do arquivo, que já recebeu piso frio e revestimento nas paredes, a fim de evitar umidade e danos ao acervo. “Tomando-se esses cuidados e seguindo a lista de orientações que arremata o trabalho da fundação, o acervo do colégio, que deverá ser manuseado com luvas, estará preservado por mais 100 anos, no mínimo”, garante. As fotos mais interessantes serão duplicadas e integrarão o acervo da Fams.
Uma história relacionada à Cidade
Foi graças aos levantamentos para a tese do curso de pós-graduação na UniSantos que Maristela Silvino descobriu uma nova história do Stella Maris. “Comecei a ver tanta fotografia interessante que mudei o enfoque do trabalho, antes voltado para o Boqueirão, pois percebi que o colégio está mais ligado à história e ao crescimento da Cidade do que imaginei”. Concluída a tese, veio a vontade de organizar aquele acervo. Graças a uma amiga da filha, ela conheceu o trabalho da Fams e surpreendeu-se com a receptividade recebida. Aí, foi só contar com ajuda da amiga Valéria, que também se entusiasmou com o trabalho.
“Descobrimos que nosso vínculo com o colégio é muito grande e que não se alterou com o passar dos anos”, confidenciou Maristela. Elas descobriram curiosidades já desde o início das atividades da escola, em 1924, como a existência de uma estrebaria na casa dos Carreresi (transformada em salas de aula), classes mistas no Externato Santa Tereza em 1936, imagens dos antigos casarões da Avenida Conselheiro Nébias, fotos de missões da congregação à África e aspectos de Jupille, cidade da Bélgica, de onde nasceu a intenção das irmãs de fundar uma filial no Brasil.
A própria aquisição da sede do colégio é curiosa e atribuída à interferência divina. Em 1923, a madre superiora de São Paulo e duas irmãs percorreram várias casas à venda em Santos e Guarujá. Nenhuma agradou-as. No retorno à estrada de ferro, o carro de aluguel pegou, sem querer, a avenida e a torre da casa chamou a atenção das religiosas, que decidiram conversar com os proprietários. Por coincidência, a família pretendia vender a propriedade. Para completar, um dos filhos havia sonhado que Nossa Senhora lhe dizia que aquela casa seria dela. Curiosidades que, em breve, estarão à disposição no arquivo do Stella Maris.
__16-06-05__