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História das bordadeiras do S. Bento
Quem quiser conhecer a história das bordadeiras do Morro do São Bento, que perpetuam em Santos a arte milenar da Ilha da Madeira (Portugal), tem agora uma nova e rica fonte de pesquisa, à disposição na Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams).
No dia 7, o Arquivo Intermediário (R. do Comércio 87) recebeu a visita de três das cinco artesãs que integram a União das Bordadeiras do Morro do São Bento, que acompanharam a jornalista Gisela Kodja na doação de sua dissertação de mestrado, apresentada no ano passado na PUC, com a qual obteve o título de mestre em gerontologia. A dissertação conta com fotografias do Marcos Piffer.
Arte que se confunde com a própria descoberta, em 1418, do Arquipélago da Madeira - formado pelas ilhas Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens -, o bordado representou mais do que um reforço para o orçamento familiar: foi o instrumento identitário das imigrantes portuguesas que começaram a chegar a Santos, mais intensamente, por volta da década de 1960 e uma forma de participação social. “As bordadeiras do São Bento construíram suas vidas com muita coragem e transformaram o ofício aprendido com suas mães e avós em uma fonte de vida e saúde, e de contribuição à Cidade que as acolheu”, comentou a jornalista, cujo tese também integra o acervo virtual do Instituto Museu da Pessoa.
ARTE SEM HERDEIROS - Mas essa arte está fadada a desaparecer: das 300 bordadeiras que atuavam na década de 1960, hoje há apenas cinco. Elas são, agora, as únicas associadas da União das Bordadeiras do Morro São Bento, fundada há 20 anos graças ao incentivo de Francisco Ribeiro do Nascimento, outro jornalista, mais conhecido como Chico das Castanhas.
É que o trabalho é difícil e demora pelo menos seis meses para que se domine os pontos mais fáceis, motivo das desistência que levaram a entidade a fechar o curso que mantinha na sociedade de melhoramentos do morro, conforme explicou Teresa Gonçalves Pestana, 67 anos, que saiu da Madeira aos 21 anos e preside a União das Bordadeiras desde sua fundação. Maria Alexandre Fernandes, a única brasileira da entidade, filha de pais madeirenses, lembra que as meninas começam a aprender o ofício aos 5 anos de idade, garantindo-lhes uma técnica capaz de identificar a natureza de qualquer bordado.
“Se não fosse o bordado eu, que não tenho outra profissão, o que iria fazer?”, questiona-se Beatriz de Freitas Leão Pereira, viúva de 81 anos, ilhoa que chegou a Santos com o marido, aos 26 anos de idade. Integram ainda a União das Bordadeiras Isabel da Paixão Fernandes de Andrade e Maria Paixão de Abreu. Semanalmente, sob chuva ou sol, elas aceitam encomendas e expõe seu trabalhos, uma vez por mês, no Orquidário Municipal. São cerca de seis quilos de peças que elas, idosas, transportam de ônibus, por amor à arte, honrando a tradição de suas ancestrais.
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