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Museóloga alerta sobre o descarte da memória contemporânea
A sociedade atual, marcada pela sucessão de tecnologias e pela rápida substituição de bens, está perdendo parte de sua história ao descartar parcela da memória contemporânea, criando uma importante lacuna para o futuro. O alerta foi feito na terça-feira, dia 4, pela museóloga Beatriz Augusta Cruz, do Departamento de Museus e Arquivos da Secretaria de Estado da Cultura, durante a Oficina Como formar e organizar um museu municipal, promovida pela Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), em mais uma etapa dos eventos comemorativos aos seus 10 anos de atividades.
A programação, realizada na Associação Comercial de Santos, contou com 124 participantes, entre eles representantes de instituições públicas e particulares da região e do litoral. A diretora-presidente da Fams, Cristina Guedes, comemorou o interesse despertado pelo programa, obrigando à abertura de mais 44 vagas para atender às solicitações, e disse que, com a oficina, Santos mais uma vez coloca-se à frente, uma vez que 2006 será o Ano Nacional do Museu, para o qual estão previstos vários eventos.
A abertura das atividades contou ainda com a presença de Edison Monteiro, diretor da Universidade Paulista (Unip), que anunciou a abertura de um curso de especialização em arquivologia e gestão documental, a partir de intermediação feita pela Fams, que identificou a existência de interesse por parte de profissionais inscritos no I Seminário Regional de Memória, promovido pela fundação no início de maio. “Será um MBA (Master in Business Administration), cuja proposta já foi celebrada com a Universidade de São Paulo, visando especializar o profissional da área e atender às necessidades do mercado regional”, afirmou. Trata-se de um curso inédito na região, que abre um novo mercado de trabalho, com o mesmo nível de qualidade do promovido pela USP.
Responsável pela assistência técnica aos museus do Interior, Beatriz Cruz comentou que “muita coisa da sociedade contemporânea está indo literalmente para o lixo”, perda que jamais poderá ser recuperada. “Dizer que se resgata a memória é um erro; se algo foi perdido, estará perdido para sempre”, frisou. Em sua opinião, falar de museu é falar de memória, da identidade de um grupo, de um segmento ou de uma época.
Museu permite sensações únicas com a história de um povo
De acordo com Beatriz Cruz, museu é uma instituição fascinante, não só por preservar a memória, mas sobretudo como possibilidade única de se ter contato tridimensional com peças que testemunharam a história. “Mas para ser preservada, a memória precisa ser transformada em patrimônio, ou seja, em um documento de identidade de um povo”.
Para a museóloga, é preciso desmistificar a idéia de que museu é lugar de coisa velha e qualificar o equipamento como atividade competente. Entretanto lembrou que, por força de limitações impostas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico (Condephaat), o museu, como instituição, encontra-se atualmente em uma “camisa-de-força”.
Isso porque, de acordo com a legislação, o patrimônio histórico tombado deverá ser utilizado preferencialmente para arquivos, museus e bibliotecas, quando muitas vezes esses espaços não são condizentes para exposição de acervos e recepção adequada da comunidade. “Muitos museus encontram-se em locais improvisados e não integram um projeto bem estruturado, fazendo com que o público tenha uma imagem negativa do equipamento, onde tudo é chato, nada é permitido e o texto das etiquetas é incompreensível”.
Exigente, a sociedade espera que os museus sejam instituições confiáveis, que de fato preservem coleções em nome da sociedade, estejam focados no público, incentivem as pessoas a explorar suas coleções, adquiram itens honesta e responsavelmente, salvaguardem o interesse público pelos acervos por longo prazo e reconheçam o interesse de pessoas que fizeram, usaram, possuíram, colaboraram ou doaram itens. Nesse aspecto, Beatriz Cruz lembrou que ninguém ou nenhuma instituição tem a propriedade de bens arqueológicos, paleontológicos ou ferroviários. “Por lei, esses acervos pertencem à União e os particulares têm apenas a tutela dos itens”.
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